FMP Pelo Olhar do Aluno: Rafa Rafuagi - FMP - Fundação Escola Superior do Ministério Público

Dando continuidade ao nosso especial Pelo Olhar do Aluno, quem também participou de uma conversa falando sobre antirracismo foi o rapper e ativista cultural Rafa Rafuagi, que já possui 19 anos de atuação artística e social. Aluno da FMP, ele faz parte do grupo de rap Rafuagi, é membro do Comitê Gaúcho Impulsor do HeForShe da ONU Mulheres e também é Consultor de Articulação Social e Mobilização Comunitária do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). 

Nesta live, que você pode assistir na íntegra abaixo, o Supervisor de Comunicação da FMP, Fernando Zanuzo, recebe Rafa para falar sobre o seu mais recente projeto, o Curso Antirracismo: Como Identificar e Combater o Racismo Estrutural 

 

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No que consiste o Curso Antirracismo? 

É um material muito caro no que tange à contribuição para a Década Internacional de Afrodescendentes, que está instituída pela ONU de 2015 a 2024 e, até então, muito pouco foi feito pela própria ONU e por outras empresas e universidades. É importante que a gente traga essa temática e melhores possibilidades para que todos possam acessar. 

A ideia é que as pessoas estejam dispostas a debaterem o tema e, a partir do debate, todos terem a reflexão sobre como se desconstruir e, a cada dia ser menos racista, contribuindo para a eliminação de expressões racistas, jeitos e trejeitos, e uma série de outras situações que são abordadas no curso. 

Como está estruturado o curso?  

São dois módulos com 10 aulas pré-gravadas, totalizando quatro horas de curso, sendo que cada aula tem em torno de 15 a 20 minutos. As temáticas se complementam. Na primeira aula, são abordadas as revoltas populares e a genes do encarceramento em massa no Brasil. Um tema que dá para linkar com Direito Penal, nas questões que tangem ao alto número de encarceramento de pessoas negras e pardas no país.  

Existem aulas sobre as Epistemologias do Sul e do Norte, certo? 

Sim, temos. Eu sou formado em um curso de Epistemologia do Sul, pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Estive junto com o Prof. Boaventura de Souza Santos, que é uma grande referência, inclusive para os juristas brasileiros. Ele trouxe à tona a prática de abordar o Sul com Sul, o Sul para o Sul e o Sul trazendo as possibilidades de um olhar a partir da história dos vencidos. Então quando debatemos as Epistemologias, também é com esse olhar de valorização sobre o que é feito no Sul global e não somente no que é feito no Norte do globo.  

Você falou sobre o curso contribuir para eliminar expressões racistas. O que encontramos no curso sobre isso? 

Temos uma aula sobre expressões históricas que abordam justamente isso: eliminar do nosso vocabulário, do nosso dia a dia, expressões de uso corriqueiro que talvez passe despercebido por quem as profere, mas que são uma forma de manutenção do racismo dentro das instituições, empresas e órgãos do primeiro setor.  A expressão “tigrada”, por exemplo, que também abordei no documentário ‘Manifesto Porongos’, é muito usada no Rio Grande do Sul ainda, principalmente em cidades interioranas. Ela é fruto da Revolução Farroupilha, que teve um desfecho trágico no episódio do massacre de Porongos. 

Os negros que não foram mortos exterminados pelos próprios comandados, foram enviados ao Rio de Janeiro, capital do Brasil naquela época e, chegando lá, o único trabalho deles era limpar as patentes. A mistura química de fezes, urina e outros excrementos se tornava tão ácida que, quando escorria na pele deles – muito mais negra do que a minha -, os deixava listrados e os brancos daquela época riam dizendo “lá vai os tigres, lá vai aquela tigrada”. Muita gente utiliza ainda, mas poucas pessoas sabem a origem.  

E é importante termos esse pano de fundo para entendermos o presente, não? 

Sem dúvida. Se queremos mudar o presente e construir um novo futuro, é necessário que a gente vá na raiz do problema e o curso aborda isso. No segundo módulo, nós temos práticas antirracistas e como cada um pode se somar à luta. Tem o papel do branco na luta antirracista também. 

Temos pautado as Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que trazem à tona um material que deve contribuir com o currículo escolar sobre a história negra e a história indígena. E ainda muito pouco foi implementado, principalmente dentro das universidades – e poucas universidades têm pensado em como atrelar o conteúdo da história negra com a matéria e o curso aplicado. 

Fica aí também uma forma da gente levar cada vez mais essas leis para dentro da FMP para que a instituição também protagonize essa mudança de paradigma que necessitamos. É um dever moral que a nossa geração tem de superar o racismo. 

E onde as aulas estão disponíveis? Qual a plataforma utilizada? 

É possível conferir tudo na plataforma Sympla Play. Lá tem a descrição de cada aula, módulo e também os materiais que utilizamos. Uma das aulas nós falamos do dicionário do esquecimento, uma prática muito bacana que pode ser usada em grupos de justiça restaurativa ou qualquer outra temática, para que façamos uma reflexão acerca do óbvio que a gente vê, e isso está muito atrelado às Epistemologias do Norte e do Sul, que é trazer possibilidades de ressignificar expressões, palavras e, a partir disso, proporcionar uma mudança na sociedade. 

Como acha que a FMP pode contribuir ainda mais para a luta antirracista? 

Estamos atravessando essa Década Internacional de Afrodescendentes que possui três pilares: justiça, reconhecimento e desenvolvimento. Nada melhor do que falar com a FMP, a melhor faculdade de Direito do nosso estado, que pauta a justiça dentro de todas as formas de diálogo existentes na universidade. Com isso, é importante continuarmos refletindo como o curso possa contribuir, para que cada educando, educador e colaborador da instituição possa estar engajado nessa luta. 

Deixe um último recado sobre o curso. 

Ele traz esses três pilares de modo muito didático, e essa metodologia dá condição de cada um e cada uma se enxergar dentro da luta. É um curso importante também para quem acha que já sabe tudo sobre o tema ou nega o debate. São essas pessoas que precisam prestar atenção para superar o preconceito, discriminação e racismo. 

 

Para mais informações acerca do Curso Antirracismo, clique aqui 

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